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Solo Adventurers Joana & Daniela

Daniela, a que vive entre os primatas humanos e não-humanos

Atualizado: 27 de jun. de 2021


Daniela vem do hebraico (diz a internet) com o significado "Deus é meu juiz" e existem mais de 112 mil registos deste nome. Acredito que entre essas milhares de milhares de Danielas muitas se distingam pela forma como enfrentam abraçando a vida. Hoje trago até à tua vista uma dessas mais de 112 mil. Sabes porquê? Porque acredito que precises de conhecer esta Daniela para te agarrar um pouco mais à crença que nesta selva que pode ser o mundo há quem saiba ter a sensibilidade de lidar com o bicho homem e o bicho bicho.

-Sinopse de uma amizade-

Conheci a Daniela em 2014 nas várias sessões do programa Spirit da WACT onde eu estava enquanto formanda a criar o meu projeto de empreendedorismo social para levar para São Tomé. A Daniela fazia parte da equipa de coordenadores de projetos. Nesse início de ano nem imaginava que meses depois entre Agosto e Setembro estaríamos a partilhar a mesma casa durante 6 semanas na ilha de São Tomé, ela enquanto coordenadora de terreno e eu voluntária. Desse ano até aos dias de hoje não fomos perdendo o contacto apesar de cada uma andar nas suas aventuras. Guardo uma amizade e admiração pela Daniela e a sua história. Acho que também vais gostar de a conhecer. Prometo.

-Sinopse sobre a Daniela Rodrigues-

Podia contar mil coisas sobre a Daniela mas quando temos alguém como ela que escreve da forma como nos faz sentir tenho a certeza que faz mais sentido lermos as suas palavras:

Desde pequena que viajo muito, e que os meus pais plantaram a semente da curiosidade em mim. Não me lembro dos primeiros destinos, mas sei que a inquietação e a vontade de conhecer o mundo começaram ainda dentro da barriga da minha mãe. É impossível falar de mim sem falar das pessoas com que cresci, porque sou o que sou hoje por ter tido a sorte de beber constantemente da inspiração dos meus pais e da minha irmã.

O meu pai nasceu da Índia numa família muito pobre e passou muitas dificuldades ao longo da sua vida. Quando começou a perder a visão ainda em criança, era fácil traçar o seu caminho para a desgraça. Em vez disso sempre foi um lutador. Por força das circunstâncias teve de ir para Moçambique e para Inglaterra antes de assentar em Portugal. Muitas portas insistiam em fechar-se, e como ele, muita gente enfrentava a escuridão. Mas a sua força de vontade fez com que ele próprio trouxesse um pouco de luz à sua vida e a de muitos outros. Criou um instituto de cegos em Moçambique, que agora tem o seu nome, e uma Associação em Lisboa (APEDV - Associação Promotora de Emprego de Deficientes Visuais), que ainda está de pé e investe na formação de cegos e amblíopes para os preparar para o mundo do trabalho. Cresci um pouco com esta associação também. Para mim, ser cego era como uma outra característica física qualquer, como ser baixo ou magro, ser coxo ou ser maneta. Claro que não desvalorizo a visão de modo algum… mas a facilidade com o que meu pai sempre fez as coisas, fizeram sempre parecer tudo simples e normal.

O meu pai deixou-me cedo. Custou-me muito, e deixa uma enorme saudade no seu lugar… mas sinto-me ao mesmo tempo sortuda por ter podido partilhar 15 anos da minha vida com uma pessoa tão especial. Morreu quando tinha 15 anos, e desde aí a minha mãe teve de fazer o papel de mãe e de pai. Quando a minha mãe conheceu o meu pai, também não foi fácil. Também ela foi uma lutadora, e no seu passado também teve de emigrar para França para abrir mais portas para o seu futuro. Completamente autónoma desde pequena, teve que aprender a desenvencilhar-se sozinha. Muitas pessoas que lhe eram queridas não a apoiaram quando se decidiu casar com o meu pai. Mas devido à sua energia incrível e resiliência conseguiu ultrapassar todas estas dificuldades e reaproximar-se dos que se tinham afastado. A minha irmã é uma constante viajante, e o mundo parece um sítio pequeno para ela. Desde arqueóloga a antropóloga, passando por fotografa submarina a guia turística, coleciona histórias que parecem humanamente impossíveis de presenciar no período de uma vida, e a verdade é que só passou a casa dos 30 há muito pouco tempo. E foi rodeada destas pessoas fantásticas que cresci.

Desde pequena questionava tudo, desde coisas práticas do dia a dia até às coisas mais transcendentais que atormentam os maiores filósofos. E muitas vezes esbarrava-me com a resposta que nunca gostei “Olha, é assim porque sim”. E talvez isso ainda tenha mais alimentado a minha curiosidade pelo que me rodeia e a minha inconformidade com as situações ou explicações que não me agradam. Decidi tornar-me bióloga na tentativa de satisfazer um pouco desta curiosidade e encontrar resposta a muitas perguntas com que me tinha cruzado anteriormente. Ainda na faculdade surgiu a minha paixão por outros primatas e decidi traçar o meu caminho académico nesta direção. Seguir pela área da investigação não é fácil. Sei que neste momento há muitos trabalhos precários, mas a investigação sempre foi, e tenho a sensação que sempre será. Há muita competitividade e pouco investimento financeiro. As adversidades que encontramos ao longo do caminho são muitas, e se não gostarmos mesmo, ou se não tivermos a energia que é necessária para ultrapassar os desafios que vão surgindo, é muito fácil desistir.

Concorri a doutoramento em Portugal e no estrangeiro durante 3 anos. Tentei também, outras bolsas de investigação que me poderiam ir dando mais currículo na minha área. Infelizmente os “nãos” foram muitos, e muitas vezes levaram a questionar as minhas capacidades e o que queria para o meu futuro. Paralelamente fui sempre procurando outros trabalhos temporários, pois o tempo começava a passar e eu sem perspectivas futuras na direcção que ambicionava. Comecei por trabalhar como animadora cultural e científica. Fui também assistente de investigação na área de medicina. Posteriormente trabalhei como formadora de informática para seniores, e como formadora de anatomia e noções básicas de saúde para pessoas cegas/amblíopes. Olho para trás e sei que foram as forças das circunstâncias que me levaram a procurar estas maneiras de me sustentar. E apesar de por vezes me terem consumido alguma energia que acabava por não investir nos meus esforços de seguir o caminho académico que tinha em mente, não me arrependo de nenhuma escolha que tenha feito. Aprendi muito em cada uma destas experiências. Mas a verdade é que a minha persistência trouxe finalmente frutos e consegui financiamento para começar a nova etapa académica que tanto ansiava.

Paralelamente a estes desafios profissionais, durante a faculdade comecei também a pôr as mãos à obra na sociedade que me rodeia. Desde aí comecei a envolver-me em projectos sociais, como o Bô Energia (desenvolvido na WACT) e a Refood, e onde tive também possibilidade de conhecer tantos outros projectos lindíssimos, e que me fazem acreditar que o mundo é um sítio mais bonito com todas estas pessoas que se preocupam.

Acho que é um erro considerarmos as pessoas como entidades finitas. Penso que cada um de nós é feito de um fluxo de vivências, de pessoas, de sítios. Tal como absorvemos um pouco de tudo do que nos vamos cruzando, também deixamos um pouco de nós nesses sítios e nessas pessoas. Todas as viagens que fiz, tanto a nível pessoal como profissional, e todas as culturas diferentes que conheci, contribuem para o que sou hoje. Mas acredito que os sítios onde vivi moldaram-me um pouco mais, por serem experiências menos efémeras e por não as viver na condição de turista. Guardo com um grande carinho as vivências e as amizades que fiz em França, em Espanha, São Tomé, Indonésia, e agora no Japão.

Considero-me uma pessoa activa e que gosta de aventura. Já comecei a riscar algumas coisas da minha bucket list, tais como mergulhar na grande barreira de coral, saltar de paraquedas, e visitar algumas das maravilhas do mundo (mas ainda faltam algumas)... Gosto de jogar voleibol, faço yoga e estou a aprender a dançar Forró. Acho que faço muitas coisas, talvez demasiadas, mas penso que o truque é dedicar-nos a 100% a cada uma delas, e aos momentos que passamos com as pessoas que gostamos. Há sempre tempo para isso, desde que o tornemos uma prioridade… e para mim é sem dúvida uma prioridade.

 

-Lições de Vida na primeira pessoa-

da Daniela para nós

1. Nunca desistas dos teus sonhos.

Por vezes o que sonhamos pode parecer impossível, mas às vezes é só muito difícil. Pergunta a ti próprio onde e em que circunstâncias te gostarias de ver daqui a 5, 10 anos, e traça o teu caminho nessa direcção. Por muito cliché que pareça, dá-te um rumo e traz algum sentido às coisas que estás a viver.

2. Aproveita o tempo que tens.

Acho muito importante aprender a gerir o tempo. Muitas vezes quanto menos coisas se tem para fazer, pior é… ou só conseguimos fazê-las perto dos prazos (quando os há), ou então acabamos por não as fazer de todo, pensando que as podemos fazer mais tarde. Planificar as coisas minimamente, estabelecer metas e principalmente definir prioridades ajuda bastante a concretizarmos o que queremos sem stress ou frustração associados.

3. Pensa e investe em ti

Sai da tua zona de conforto e desafia-te constantemente. A rotina pode ter coisas positivas, mas pode também ser perigosa. Tenta dedicar algum tempo a coisas que gostes de fazer e procura inclui-las na tua rotina. Tanto a nível pessoal como profissional, adopta uma postura modesta e ao mesmo tempo ambiciosa. Se estiveres disposto a isso, existe sempre muito espaço para crescer e aprender.

4. Rodeia-te de pessoas que te façam sentir bem, e dedica tempo a elas

Estares com as pessoas que gostas ou que te transmitem boas energias é meio caminho andado para te sentires bem. Dá um pouco de ti a estas pessoas, e sem dares conta recebes muito mais. As relações são sempre recíprocas, por isso não estejas à espera que as pessoas estejam sempre lá para ti, se não te preocupares minimamente em alimentar também essa relação.

5. Gere as expectativas

O modo como processamos as nossas emoções e sentimentos nas nossas vivências têm sempre um pouco de influência do que idealizamos antes. É importante sonhar, mas também é importante ser realista e estar ciente que as coisas podem ter outro desfeche, ou acabarem por ser vividas com outra intensidade. Um dia, relativamente às expectativas, falaram-me da importância de termos uma folha em branco. Pessoalmente acho muito difícil, mas concordo que só temos a ganhar em escrever o mínimo, e deixar as coisas acontecer.

 


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Boas Aventuras,

Solo Adventurers Joana & Daniela


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