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Eu não sou o teu negro


Um extraordinário documentário produzido em 2017 sobre relações étnicas e a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos da Américo que transmite com imagens e cruzamento de histórias reais de Medgar Evers, Malcom X e Martin Luther King Jr. baseado no manuscrito "Remember This House" de James Baldwin.

“What white people have to do is try and find out in their own hearts why it is necessary to have a 'nigger' in the first place, because I'm not a nigger. I'm a man. But if you think I'm a nigger, it means you need it.” ― James Baldwin, I Am Not Your Negro

“The question is really a kind of apathy and ignorance, which is the price we pay for segregation. That’s what segregation means. You don’t know what’s happening on the other side of the wall, because you don’t want to know.” ― Raoul Peck, I Am Not Your Negro

“The root of the black man's hatred is rage, and he does not so much had the white man as simply as want the out of his way, and, more than that, out of his children's way. The root of the white man's hatred is terror, a bottomless and nameless terror, which focuses on this dread figure, an entity which lives only in his mind.” ― James Baldwin, I Am Not Your Negro

De onde vem o racismo e outras formas de segregação? Vêm de tentativas manipuladas para arranjar culpados, fomentar o terror e camuflar interesses. Tal como aconteceu com o nazismo que via na supremacia ariana a perfeição e exterminava os judeus metarmofando-os em criaturas não humanas com características que os distinguiam dos restantes. Assim como nos genocídios de Bangladesh (1971), o mediático do Ruanda baseado na distinção étnica de hutus contra tutsis (1994), o bósnio que ocorreu durante a guerra da Bósnia (1992-1995) e o ainda atual na ex-Birmânia contra a minoria muçulmana rohingya. Sem não esquecer a contemporânea crise humanitária de refugiados em que muitas pessoas percepcionam uma distinção entre "eu" e os "outros" fomentando a xenofobia no seio da sociedade que os acolhe.

Para mim é impensável pensar que existe superioridade ou inferioridade seja étnica, religiosa ou de outro tipo entre os humanos. Não obstante, não é por eu me recusar a ver o mundo a preto ou branco que conseguirei desaparecer com séculos de intolerância, racismo, xenofobia. Não vão desaparecer porque esquecer a história é um dos maiores erros para que esta seja repetida. Devemos relembrar o que mais dói para evitar erros.

Nas zonas onde cresci a maioria sempre foi branca, mas também já vivi como sendo eu a minoria noutros países. Posso sentir-me privilegiada por nunca ter sentido racismo contra a minha pele, mas enquanto mulher já senti a desigualdade. Agora basta imaginar o que seria sentir essa diferença todos os dias da minha vida mas misturada com violência e repúdio. Não quero e não aceito que alguém o aceite. Se tu ao imaginares isto não sentires um arrepio ou a vontade de mudar de pensamento para algo menos desconfortável, acho que deves obrigar-te a sair da tua zona de conforto e exercer empatia.

O paradoxo da tolerância de Karl Popper podia ser debatido neste ponto, mas deixo para outras núpcias não evitando de o mencionar e definir brevemente:

"Tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância. Se estendermos ilimitada tolerância mesmo aos intolerantes, se não estivermos preparados para defender a sociedade tolerante do assalto da intolerância, então, os tolerantes serão destruídos e a tolerância, com eles. — Nessa formulação, não insinuo, por exemplo, que devamos sempre suprimir a expressão de filosofias intolerantes; desde que possamos combatê-las com com argumentos racionais e mantê-las em cheque frente a opinião pública, suprimi-las seria, certamente, imprudente. Mas devemos nos reservar o direito de suprimi-las, se necessário, mesmo que pela força; pode ser que eles não estejam preparados para nos encontrar nos níveis dos argumentos racionais, mas comecemos por denunciar todos os argumentos; eles podem proibir seus seguidores de ouvir os argumentos racionais, porque são enganadores, e ensiná-los responder argumentos com punhos e pistolas. Devemos, então, nos reservar, em nome da tolerância, o direito de não tolerar o intolerante".

Informa-te, compreende, sê tolerante com medida e justo. Podes começar por ver este documentário que faz a ponte para realidades atuais que não ficaram nos anos 60 e que não deveriam existir em anos nenhuns.

Boas Aventuras,

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