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Reações do Stress Agudo e Perturbações do Stress Pós-Traumático

Atualizado: 27 de abr. de 2022

No seguimento do liveshow "Doses de Inspiração" 💊 em parceria com o Gabinete Psicologia partilhamos contigo algumas questões importantes no âmbito da saúde mental.

As perguntas são nossas mas as respostas são da Médica Psiquiatra Margarida Albuquerque:



1) O que é o stress agudo?


Antes de mais queria começar por dizer que estes conceitos, são conceitos que utilizamos tecnicamente quando queremos enquadrar determinados sintomas num diagnóstico. No caso das reações de stress agudo e das perturbações do stress pós-traumatico, estamos a falar de sinais e sintomas que surgem em resposta direta a um evento de vida stressante ou uma mudança significativa na vida. No fundo, são respostas mal adaptativas a um stress contínuo ou muito intenso, que interferem brutalmente com a capacidade de resposta da pessoa levando a um importante impacto no funcionamento.

Numa pessoa sem história de doença mental, sem qualquer sintoma anterior, na sequência de um intenso stress físico ou mental pode desenvolver-se o que chamamos Perturbação do Stress Agudo (PSA), a qual habitualmente desaparece em horas a dias. Na recuperação importam as características de cada um no que refere à sua vulnerabilidade e a capacidade de lidar com as situações adversas. Os sintomas habitualmente são de uma espécie de “adormecimento mental” com diminuição da capacidade de estar atento e de percepcionar estímulos e de certa forma sentir-se desorientado. Associado a isto podem surgir vários sintomas nomeadamente agitação, inquietação, os conhecidos sintomas físicos de ansiedade como taquicardia, suores ou rubor. Habitualmente estes sintomas começam em minutos após o evento e desaparecem ao final de alguns dias, podendo desenvolver-se amnésia para o evento.


2) O que são as perturbações do pós-stress traumático?


A Perturbação de Stress Pós-Traumático caracteriza-se por pensamentos intrusivos, pesadelos ou flashbacks de um evento traumático passado, evitamento de estímulos que despoletem memórias associadas ao evento traumático, estado de hipervigilância e alterações fisiológicas sobretudo do sono em resposta a um evento traumático. No conjunto esta perturbação causa sofrimento considerável e disfunção social, profissional e interpessoal. Entre as situações que podem despoletar PTSD/PSA encontram-se: testemunhar ou vivenciar situações de morte, ameaça ou risco de vida ou para a integridade física (incluindo acidentes, desastres naturais, crime violento, doença grave, internamento em cuidados intensivos, combate militar, abusos/maus tractos físicos e sexuais, assalto ou violação).


3) Como a Covid-19 pode agravar o stress na pessoa durante a pandemia e após a pandemia?


A relevância de falarmos disto está precisamente na diferença que esta pandemia de Covid-19 pode ter em termos de reações de stress agudo e PTSD. Muito temos ouvido falar sobre os desafios do isolamento, o impacto socioeconomico e o possível surgimento de sintomas de ansiedade e depressão, aí já na dependência dos mecanismos de coping de cada um, da vulnerabilidade individual e da capacidade de resiliência. E, portanto, nesta fase é natural que estejamos apreensivos, que sintamos inquietação e medo.


Quanto ao desenvolvimento de perturbações como o stress agudo ou as PTSD é mais difícil perceber o que vai acontecer. A escala deste fenómeno é global isso tanto pode reduzir o risco de desenvolvimento de Perturbações de stress pos-traumatico como aumentá-lo. Os estudos que existem nesta área debruçam-se sobre os impactos da quarentena, de desastres de grandes dimensões e do impacto de stress duradouro …mas uma situação em que aconteça as três em simultâneo é uma novidade para todos. Com o fator medo constante como adicional.


Se compararmos com crises anteriores, com o 11 de setembro, sabemos que mesmo pessoas que não estiveram em contacto direto ou tiveram pessoas próximas envolvidas, desenvolveram PTSD apenas pela exposição televisiva/mediática. Por sua vezes, alguns grupos têm particular vulnerabilidade nomeadamente pessoas que perderam algum familiar neste contexto e não o puderam visitar no hospital nem fazer um funeral tradicional; doentes que tiveram a experiência de uma quarentena isolada e sobretudo os que tiveram experiência de cuidados intensivos e os profissionais de saúde que não só têm que lidar com os seus próprios medos de infeção e de contágio de entes queridos, como o da realidade a que assistem, a necessidade de tomada de decisões complexas, a incerteza quanto ao prognóstico das pessoas que cuidam


4) Como podemos minimizar as reações e as perturbações?

As melhor forma de minimizarmos o surgimento destas doenças é reduzirmos a possibilidade de elas surgirem. Para isso é fundamental que “estejamos no presente”. O tão falado mindfulness tem aqui mais uma vez um grande relevo. Técnicas como o controlo da respiração e o reconhecimento e aceitação de emoções a que não estávamos habituados são fundamentais nesta fase. Depois, termos domínio sobre as nossas emoções e pensamentos. Evitarmos ver as novidades/updates das notícias sobre a pandemia e limitarmos o acesso a estas notícias via fontes fidedignas. Finalmente, focarmo-nos no que podemos controlar. O medo toma conta de nós por estes dias, é fácil sentir que nada está sob o nosso controlo. No entanto isto não é bem assim, há coisas que estão – é possível tentar normalizar dentro do anormal: ter uma rotina de hobbies, tentar uma nova atividade, dormir pelo menos as 8 horas que necessitamos, se partilhamos casa, termos o nosso espaço e dar o seu espaço a quem vive connosco.



Vê a liveshow "Doses de Inspiração" que deu origem ao tema deste artigo:



Também disponível em podcast no Spotify!


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