Sabrina Coelho

6 de mai de 202110 min

A ciência por trás das emoções associadas aos hábitos de vida saudáveis

Atualizado: 10 de jun de 2021

Já ouviu aquela frase assim “ Meu coração estava acelerado, estava cheia de adrenalina no corpo”? Ou algo como “Preciso de uma dose de serotonina”? Provavelmente, sim!

Estamos falando de neurotransmissores relacionados às emoções. Alguns deles!

Afinal, como eu vim parar nisto de Neurociência e emoções?

Vou começar esse texto contando um pouco sobre a minha trajetória acadêmica, prometo que fará sentido no final.

Eu era uma excelente aluna em biologia e química durante os meus anos multidisciplinares de colégio, mas a criatividade e a parte linguística e textual berravam nos meus ouvidos. O que me levou anos mais tarde, a prestar vestibular para Publicidade e Propaganda ainda na minha cidade, Belo Horizonte.

Embora, avançar na minha carreira pelo percurso criativo fosse o meu desejo, a maior parte dos meus primeiros estágios e projetos estavam relacionados ao Marketing, estratégia e gestão. Minha parte analítica e curiosa aflorava, mesmo que as minhas birras internas odiassem as aulas de estatísticas! Mergulhei na faculdade de Marketing, já em Portugal.

Ao longo dos anos, fui vencida pelo próprio mercado, que me amadureceu e me mostrou que o meu lugar ao sol é muito provavelmente, no Marketing e nas ramificações que ele tem.

Só que, eu ainda me lembrava de cor do processo de funcionamento dos neurônios. Lembrava-me de termos, como sinapse, e achava fantástico a ciência por trás das emoções.

Questionar é um verbo que vive tatuado em mim, desde a fase das birras aos 3 anos até a fase das crises internas, que começaram na adolescência.

Em paralelo, a minha vida pessoal era e muitas vezes é, uma montanha-russa que exige de mim muita sabedoria e gestão emocional, nos mais diversos sentidos da palavra. E acredito que, não é exclusividade minha essa necessidade de gerir a vida da melhor forma.

Foi então que a psicologia entrou na minha vida. Tentando entender meus próprios dilemas e decisões comecei a ler sobre as consequências e as causas de fatos cotidianos e vividos e assim, tentar encontrar uma melhor forma de gerir os meus processos diários.

A partir daí foi tudo muito rápido, da psicologia mergulhei na química, afinal o nosso corpo e muitas das doenças e comportamentos humanos, têm relações diretas com a ausência ou com o excesso de hormônios e neurotransmissores. Da química, encontrei a neurociência e de muita leitura na internet, descobri o Neuromarketing, que aplica o marketing na base dos conhecimentos neurocientíficos.

No resumo da ópera, encontrei a minha área de especialização, na qual estou cada dia mais apaixonada e certa da profissão que escolhi para mim e ainda por cima, reforçou o meu dilema pessoal de que a ciência e a fé caminham juntas.

Mas afinal, onde é que entram as emoções nisso tudo?

Se eu sei a origem do problema eu tenho mais probabilidades de conseguir tratá-lo de forma eficaz e rápida. Lá vou eu e a estatística de novo.

Não vou abordar as vertentes psiquiátricas e comportamentais da ótica profissional de um médico, não tenho nem coragem para isso.

Mas posso te ajudar a entender algumas funcionalidades do seu corpo e te deixar dicas básicas para gerir os seus processos. Bora?

OS NEUROTRANSMISSORES

O corpo humano, comunica-se de diversas formas e o sistema nervoso tem um elemento lindíssimo chamado neurônio. Esse rapaz, é uma célula que transporta impulsos nervosos pelo corpo.

Como eles não estão grudados um no outro, os neurotransmissores transportam as informações necessárias até o destino final, seja ele o sistema nervoso central ou algum órgão do corpo humano, por exemplo. São moléculas que vão sendo enviadas e rececionadas entre os neurônios.

Antes de finalizar o momento “Professor Pasquale'', vale a pena ressaltar que hormônios são diferentes de neurotransmissores. Hormônios são produzidos pelas glândulas e são lançados na corrente sanguínea, enquanto os neurotransmissores são transportados e criados pelos neurônios.

A partir dessa chuva de informações, podemos citar os principais neurotransmissores trabalhados hoje por diversos profissionais envolvidos no estudo das emoções para os mais diversos fins e assim, potencializar ou suavizar a ação deles no corpo humano. Sempre na ótica de sermos saudáveis e não praticar a automedicação sem acompanhamento e prescrição médica!

  • Acetilcolina: Essa belezura está relacionada com a memória, com o aprendizado e com a regulação do sono. Fora outras ações como inibir e facilitar os impulsos elétricos entre os neurônios e o controle somático e autônomo do corpo. Exemplos fáceis: redução de frequência cardíaca, contração de músculos e vasodilatação.

Dicas de uma não médica: A Colina, parte da estrutura da Acetilcolina pode ser encontrada em alimentos como: Amendoim, aveia, feijão, gema de ovos, soja e semente de girassol. Equilibrar o sono para dormir em média as 8 horas recomendadas pelos médicos e praticar atividades que exercitam o cérebro é uma excelente forma de se cuidar para evitar doenças relacionadas a ausência dessa substância. O uso de alguns tipos de drogas e estupefacientes inibe a produção da Acetilcolina.

  • Glutamato: O Glutamato é o famoso pau de dois gumes, em excesso, pode matar um neurônio de tanta excitação! Imaginem a minha cara quando ouvi isso durante uma aula do meu curso de Neuromarkeiting. A prova viva de que tudo em excesso faz mal! Este aminoácido é o mais abundante no SNC ( Sistema nervoso central) e funciona como um neurotransmissor responsável pelo aprendizado, pela memória e reforço das sinapses. Doenças como Alzheimer e Parkinson, possuem uma ligação direta com o funcionamento incorreto das sinapses deste neurotransmissor. Em linhas simples e nada científicas: Ele é um combustível para o nosso sistema nervoso, está envolvido nas nossas lembranças, no controle das nossas emoções e na gestão da nossa atenção. Energia para o nosso cérebro, atividades e informações a circular por todo lado!

Dicas de uma não médica: Consumir açúcar em excesso, não é bom em nenhuma hipótese, mas para aquelas pessoas que tem alguma doença degenerativa relacionada a falta de Glutamato ( como já falei acima, Alzheimer) manter-se longe do açúcar e de carboidratos de alto índice glicêmico, é uma excelente ideia, já que esse aminoácido também pode ser produzido a partir da glicose.

Outro ponto importante é manter os exames em dia e o equilíbrio alimentar das vitaminas e minerais. A falta de magnésio no corpo também pode gerar problemas mais sérios relacionados ao glutamato. Obs: O consumo de alimentos processados, como refrigerantes, reduzem a absorção de magnésio. Sou muito adepta do uso seguro das plantas medicinais e de alguns fitoterápicos, como por exemplo, na medicina Ayurveda que propõe práticas medicinais através de uma conexão com a natureza. Existe uma plantinha, carinhosamente chamada de Árvore do Intelecto que auxilia na redução da toxicidade neural, basicamente, não deixando o Glutamato agira em excesso.

  • GABA - Ácido Gama-Aminobutírico: Esse neurotransmissor tem uma função inibitória, ou seja, muito relacionado a sedativos e tranquilizantes, inclusive, muitos deles possuem gaba na composição. Além de controlar a excitação do nosso corpo, ele também tem a difícil ( no meu ponto de vista) responsabilidade de regular o tônus muscular. Ou seja, o músculo consegue contrair, relaxar e estar em perfeito funcionamento, sem algum atrofiamento ou dificuldade de movimentação. E a conversa médica neste tema é bem extensa…. vai desde o GABA a funcionar de uma forma durante a formação embrionária até o envolvimento dele com o pâncreas.

Dicas de uma não médica: Praticar atividades físicas e ter uma alimentação equilibrada e saudável. Fazer yoga ou simplesmente meditar, por exemplo, ajuda a relaxar e a se concentrar no hoje, no agora, naquele segundo. Sem preocupações no amanhã, na semana que vem ou quando vai ser o seu casamento! Respirar com calma e profundamente, relaxar a mente e reduzir a intensidade do seu coraçãozinho, coitado! Quando falamos em alimentação relacionada ao GABA, podemos falar também em ácido glutâmico ou glutamatos ( Falamos dele aqui em cima). Alguns alimentos ajudam a manter as quantidades de GABA e de Glutamato em ordem, até porque eles estão relacionados: Banana, Ovo, Peixe, Alho, Aveia, Espinafre e muitos outros. Mas atenção, não adianta comer espinafres como o Popeye e deixar outros elementos em deficiência. Controlar bem a saúde dos intestinos, pois eles são essenciais no corpo humano, e descansar.

  • Serotonina: Essa é famosa: O Hormônio da felicidade! Também conhecida como 5HT e comercializada em formato suplementos com esta mesma sigla, a Serotonina é uma forte atriz principal no controle do humor, do sono, do ritmo cardíaco entre outras funções corporais. Quando ela está em falta, surgem diversas alterações como ansiedade, depressão, dificuldade de concentração e muitos outros sintomas e causas. Ela também ajuda a controlar a atividade dos intestinos, ou melhor dizendo, os movimentos dele e até mesmo no processo de coagulação do sangue, ou seja, cicatrização rápida. Incrível, não é?!

Dicas de uma não médica: Como é de “praxe”, a alimentação carrega uma enorme responsabilidade no bom funcionamento do corpo humano. Alguns alimentos ajudam na produção da Serotonina, pois são ricos em Tripofano, o aminoácido responsável por produção do 5HT: Banana, Ovos, Salmão, Nozes, Carne de Peru, amendoins, cajus entre outros. Existem diversas recomendações médicas, inclusive, que aconselham a suplementação com probióticos, mas para não ser uma bomba no seu corpitio, consulte um médico e faça uma bateria de exames. O famoso Check-up! Pratique atividade física, tome vitamina D natural, o famoso solinho e seja feliz.

  • Dopamina: Assim como muitos outros neurotransmissores, a dopamina atua no SNC e é produzida, ou sintetizada como habitualmente falamos, a partir de um aminoácido chamado Tirosina. Essa menina, é responsável por algo que o ser humano adora: o sentimento de recompensa, prazer e humor. Também auxilia no controle do sistema motor ou modulação motora, algumas funções endócrinas e cognitivas. A verdade é que o corpo humano é uma imensidão por descobrir, então sempre haverá novas funções e novas descobertas relacionadas a essa ciência. Basicamente a Dopamina é a “chef” do mecanismo de recompensa que existe dentro de nós. Sabe aquele chocolate que você não para de comer? Já sabe em quem colocar a culpa ( primeiro em você, depois na dopamina).

Dicas de uma não médica: O consumo correto e equilibrado das proteínas ajuda muito, como a quinoa, o famoso arroz com feijão, semente de abóbora e outros. Outros estudos, dizem que as gorduras saturadas eliminam a ação da dopamina de forma correta. Logo, evite! Passe longe das drogas e toxicodependentes, controle o consumo de álcool , o uso destas substâncias em excesso dispara a produção de dopamina e o sistema de recompensa, será cada vez mais exigente com você. A dopamina, também está relacionada com o nosso pensamento e com o apetite, variando do local onde ela está a trabalhar. Mantenha seus exames de rotina em dia e se notar alguma alteração relacionada a falta de controle sobre o apetite, depressão pós-parto ( enfrentei essa doença e ainda pretendo falar sobre ela por aqui) ou outro tipo de alteração relacionada a perceção da realidade e dos acontecimentos, vá a um psiquiatra ou a um médico! Psiquiatra não é vergonha, pelo contrário é um profissional capacitado para nos ajudar. Ainda não fazemos parte da Marvel, pois não?! No mais, medite, yoga e derivados.

  • Adrenalina: Sou suspeita pra falar nela, porque eu amo um batimento cardíaco acelerado e um desafio para superar. Maaaas, com limite e na medida certa. Tudo na vida é uma questão de equilíbrio! Quando pensamos nesse neurotransmissor também conhecido como Epinefrina, pensamos logo em Fuga, luta, sobrevivência, excitação ou medo. É provavelmente esta a mensagem principal e junto com ela, vem a motivação para exercer alguma atividade ou reação. Não podemos nos esquecer que o aumento dos batimentos cardíacos vem junto, aceleração do fluxo sanguíneo por consequência, aumento da pressão arterial, aumento da frequência respiratória, dilatação da pupila, produção de energia extra, diminui a digestão dos alimentos para poupar energia ( caso você precise fugir de um leão esfomeado) e te faz transpirar feito uma chaleira. Resumindo: Cuidado. Não é sempre que devemos pular de paraquedas, ok?! Se é que me entende.

Dicas de uma não médica: Quem vive estressado, vive com altos níveis de adrenalina. O corpo está sempre em alerta, sempre pronto para a fuga ou para tomar uma decisão de sobrevivência. Então é simples, para evitar problemas derivados do excesso de adrenalina, como pressão alta, problemas cardiovasculares, doenças autoimunes, neurológicas ou psiquiátricas: NÃO SE ESTRESSE! É isso, (risos intermináveis).

  • Endorfina: Diga “Oi” a sensação de bem estar e prazer. É muito comum encontrarmos esse hormônio/neurotransmissor, associado ao prazer que temos na atividade sexual e na atividade física. Tudo relacionado, segundo estudos e muitas pesquisas! Ela auxilia na memória, no bom humor, na resistência física, auxilia o sistema imunológico e a disposição física e mental. A liberação da Endorfina, auxilia no controle da ansiedade, da depressão e até no retardado do envelhecimento. É por culpa dela que corremos 10km e no final ainda sentimos uma sensação incrível de prazer e dever cumprido. Os exercícios físicos efetivamente ajudam na produção desse elemento básico da nossa vida. A origem do nome diz tudo: Endo: Dentro, interno e Morfina: ( analgésico). Resumindo a ópera: Te deixa “anestesiado”!

Dicas de uma não médica: Sendo direta e reta? Sexo, atividades físicas, comer chocolate ( com moderação. Lembra da dopamina em?!), dê muitas gargalhadas, faça planos para o futuro, relembre bons momentos e apaixone-se ( O que vem depois não é “problema” da Endorfina, que fique claro!).

  • Ocitocina: Contrações e parto, é o que vem na minha cabeça quando penso em ocitocina! Esse neurotransmissor é responsável por promover as contrações uterinas no parto e muitas vezes é preciso introduzir diretamente na veia a ocitocina sintética para que o parto aconteça. Foi o meu caso! Além disso, ainda ajuda na amamentação, já que “empurra” o leite para fora quando estimulada pela sucção do bebé. É também conhecida como o hormônio do amor. Pesquisas realizadas, dizem que olhar nos olhos, abraçar, demonstrar empatia e afeto e contatos físicos, promovem a circulação desse hormônio. Também influencia nas funções biológicas sexuais, do homem e da mulher, só que de formas diferentes. Seja na excitação e na ejaculação, seja no orgasmo feminino. E viva o amor e o que deriva dele!

Dicas de uma não médica: O primeiro passo é perceber sintomas que indiquem a falta de ocitocina no corpo: estresse, palidez, olhar distante e triste, apatia, diminuição da líbido, da memória e da atenção, ansiedade e medos excessivos e outros sinais. O melhor, nestes casos, sempre é procurar um médico, nunca sabemos se as causas são efetivamente ligadas a ausência da Ocitocina. O corpo humano tem muitas funções e relações, uma verdadeira máquina cheia de campos não explorados. Por isso investigue!

Maaaas… Chocolate, castanha, avelã, banana, folhas-verdes escuras, por exemplo, ajudam a aumentar esse hormônio no organismo. Aqui, falamos de se doar, de socializar-se, de se colocar no lugar do outro. Por que não treinar? Participe de um projeto solidário, como o Solo Adventures, doe coisas usadas, visite um hospital e leve um pouco de alegria, ajude a associação do seu bairro, visite crianças em lares para adoção… são muitas as formas de ajudar e levar alegria ao outro.

Lembre-se, qualquer tipo de medicação ou alteração profunda do estado emocional e fisiológico do corpo, precisa ser acompanhada por um respetivo médico. Aproveito para incentivar você a procurar um profissional de saúde mental, caso perceba que não está tudo tão bem assim. E tudo bem, não estar sempre bem!

Cuide-se, cuide dos outros, alimente-se bem, pratique algum exercício e fique de olho no Solo Adventures!

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