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Ana, as lições de quem não pode morrer já

Atualizado: 15 de abr. de 2020


Ana Ramos. Quando digo o nome desta Ana o apelido traz-me à cabeça a expressão "pisar em ramo verde" porque eu observo-a como quem age de modo destemido pela vida. Se tudo são ramos de rosas? Nunca são. Mas há quem tenha ramos e ramos de histórias agarradas ao seu tronco que na chegada da primavera imagino que cheguem a florir. Vou deixar-me de trocadilhos e passar ao que interessa, à Ana Ramos.

-Sinopse de uma amizade-

Eu sei que a este mundo das Solo Adventures já te trouxe outras Anas, mas isso não faz diminuir o quanto de especial cada uma tem. Esta Ana que trago hoje escreveu o "arauto de más notícias" mas a sua vida tem sido um superar delas e a isso eu chamo de resiliência e sentido de vida. E estás a poucos segundos de descobrir porquê. Eu conheci-a na Academia de Líderes Ubuntu e ao terminarmos essa aventura não quis deixar a oportunidade escapar de a convidar a partilhar mais comigo e contigo.

-Sinopse sobre a Ana-

Se olhares para a data escolhida para esta publicação vais ver que não foi ao acaso.

A 9 de fevereiro de 1984 nasceu a irmã mais velha de três, esta Ana. Três anos ainda na transição das folhas de outono para o frio do inverno chegou a sua irmã Irene no mês de dezembro de 1987 e mais dois anos foram-lhes dados para que a quase primavera trouxesse a Renata naquele março de 1989.

E é a partir desse ano de 1989 e com uma Ana de 5 anos que esta história começa, a sua.

A Ana, como qualquer ser humano complexo tem muitas histórias dentro de si e como tal depende da abordagem que se escolha ao partilhá-las para condicionar o que tu vais saber e ficar a pensar sobre ela.

Como não existe apenas um lado da história trazemos dois lados da mesma pessoa, um escrito por ela própria e outro contado por voz. Aproveita.

"Os meus avós paternos passaram por muitas dificuldades. Mesmo assim, o meu avô juntou dinheiro para comprar um terreno onde a minha avó cultivava a terra e pediu-a em casamento debaixo de uma figueira. Foram casados 65 anos e parece que combinaram um fim-de-vida conjunto.

Os meus pais conheceram-se aos 8 anos. Começaram a namorar aos 15. Namoraram 9 anos e são casados até hoje.

Nasci e cresci a acreditar em duas coisas:

1. Ser feliz era construir uma família e isso era fácil.

2. Não era para mim...

Quando nos conhecemos, era assim que a Ana começava a sua história. Por estarem muito presentes alguns acontecimentos percebidos como negativos, contava a si própria a sua história num tom interior de vitimização... E digo interior por não ser comum partilhá-la (muito menos desta forma) com as pessoas. Aliás, se perguntassem a quem a foi acompanhando, a Ana era sempre descrita de forma leve e descontraída.

Nesta fase da sua vida e, nas suas palavras, uma Academia de Líderes Ubuntu depois, vê-se com outras lentes e conta-nos uma versão de si que só agora diz ver de forma nítida... renascendo, hoje, aqui connosco.

Foi muito desejada e nasceu num ninho de amor. Contam que começou a falar muito cedo e que parecia uma “senhorinha” em ponto pequeno: perspicaz, responsável, inconveniente e consequente. Sabia-se amada. As manifestações de carinho e reconhecimento eram visíveis mas, mesmo que não fossem, percebe agora que eram procuradas pela criança que era. Era importante ser valorizada pelo seu bom comportamento e pelas suas ações, incomuns e maduras para a idade e era absolutamente mágico ter os adultos significativos (que se estendiam desde os pais e avós para os amigos e vizinhos dos pais e avós) a alinhar em todas as aventuras da Anita.

Com um pai médico e uma mãe educadora de infância a trabalhar com crianças com necessidades educativas especiais, foi educada para a diversidade e brincou em todo o lado e com toda a gente. Cresceu com um apurado faro para compreender as necessidades dos outros, entre miúdos e graúdos, preocupando-se com todos e colocando-se “sempre ao dispor!”.

Conta-nos hoje que esta disponibilidade lhe valeu com frequência sinais de aprovação quase unânime e isso contribuiu para um fenómeno algo paradoxal: se, por um lado, favorecia uma certa dose de autoconfiança, por outro lado criava a necessidade de continuar a merecer a confiança de todos a quem sentia que devia continuar a compreender, ajudar, animar e acompanhar.

Olhando a esta distância, reconhece que podia ser inconscientemente mas era importante que gostassem de si e aprovassem a sua conduta. Era e continua a ser “quentinho” e reconfortante sentir-se especial para as pessoas com quem se cruza e a quem se entrega. Tem a agenda sempre feita num oito para fazer caber todos os afazeres. Esta entrega sai-lhe do corpo, mas também lhe enche o peito de orgulho que seja uma das primeiras paragens procurada para desabafar ou procurar conselhos.

Era nos momentos de maior cansaço, em que a sua própria energia começava a falhar, que surgia a vozinha interior da vitimização com que começámos esta apresentação. Conta que se sentia invadida por uma certa desilusão quando alguém não dava na mesma medida. Não porque achasse que lhe deviam algo, mas porque accionava o motor do questionamento interno: serei suficiente? Que fiz eu de errado? Mas a insegurança fazia com que, em vez de perguntar ou deixar passar, se manifestasse com impaciência ou mesmo com um “não” de cara fechada que, por ser inesperado e raro aos olhos dos outros, era entendido como agressividade. A estes momentos, ruminando no questionamento, seguiam-se momentos tristes e solitários (às vezes tristes porque solitários! Como se a solidão significasse abandono.)... até ao momento em que alguém voltasse a solicitar a sua ajuda novamente! E aí, renovava-se o sentido de utilidade e propósito e tudo voltava à montanha russa habitual.

Muitas voltas deu a vida da Ana... (como podem ouvir no vídeo abaixo). Muitas dessas voltas, que pareceram aumentar a frequência nos últimos tempos, obrigaram esta nossa aventureira a abrandar o passo ou mesmo a sentar-se momentaneamente na berma da estrada para recuperar energia e fôlego. Nesta paragem temeu... “quem não aparece esquece” diz-nos a sabedoria popular e a Ana temeu ser esquecida e perder o que tinha alcançado com a sua curta vida de rendição ao outro. Nesses momentos, não estando capaz de acompanhar o ritmo dos outros – que sempre pontuou a sua vida e o seu sentido – foi desafiada pela vida a confiar. A confiar que o amor é, sem ter que ser medido; que a reciprocidade não se vê e, por mais curioso que possa parecer, não pede nada em troca. Nesses momentos, no silêncio que era tão evitado, as lágrimas deram lugar a espaço... e o espaço deu lugar a ideias. E as ideias transformam-se inevitavelmente em ação e... em pessoas! Em mais ligação!

Hoje em dia, a Ana está tranquila no silêncio e com o espaço. Nada mudou, mas ficou tudo diferente na sua percepção do que a liga aos outros. Sabe que continua a ser eximia a adaptar-se a novas pessoas, contextos e desafios e no foco às necessidades dos outros, mas já não o faz na busca por aprovação. Usufrui dos frutos da sua capacidade empática, do bem-estar que daí advém e da celebração do amor que tem pelas pessoas a cada momento. Aceitando a sua vulnerabilidade e percebendo que nunca tinha precisado da sua vasta coleção de “medalhas” para ser amada, a Ana sabe que é suficiente só por ser. Agarra na sua criatividade e originalidade e está pronta para a vida que (re)começa... pronta para viver em paz na sua independência e certa da interdependência saudável, produtiva e feliz que ainda procura.

O ano é novo outra vez. Depois de um Outono duro, um Inverno de Poda... que enfrentou na certeza de ter raízes fortes e de se reinventar na “Primavera”. E, felizmente, não é preciso fazer nada para chegar outra renovada Primavera."


Se estás com curiosidade no seu lado profissional, então conto-te mais:

Se por outro lado queres conhecer mais sobre a sua veia social:

1. Penfriend@Acolhe - promove a troca de correspondência com idosos da residência geriátrica Acolhe;

2. Outro projeto ainda a fermentar mesmo no nome, mas a decorrer "consiste em recolher testemunhos de doentes oncológicos acerca do impacto da atitude e comportamento dos profissionais de saúde na forma colo lidam com a doença. O grande objetivo é sensibilizar os profissionais de saúde e desperta los para a importância da empatia!"

Digam-me lá...esta Ana não é só mais uma Ana, pois não?

 

-Lições de Vida na primeira pessoa-

da Ana para nós

Ao longo da minha vida, tenho vindo a ouvir da natureza algumas dicas que se transformaram em máximas:

1. Vive com os 5 sentidos! Nos dias de hoje, com a evolução da tecnologia e com a nossa cedência a um estilo de vida em que o tempo escasseia e a aparente e ilusória capacidade de multitasking parece mandar em todos os nossos passos, reduzimos a vida a um scroll com a ponta dos dedos. Acho que estamos a desaprender a ver, a ouvir, a sentir o sabor, a surpreendermo-nos com texturas ou a descobrir o cheiro das coisas, das pessoas, dos lugares... numa vida online de faz de conta. Tenho percebido que a experiência fica muito mais rica e colorida se a vivermos na sua plenitude, atentos a todos os canais com que a perceção nos presenteia, e o baú das memórias fica também mais preenchido de verdade e de ligação genuína e plena ao ambiente, às nossas pessoas. Haverá algo com mais valor?

2. Há uns anos, através de uma amiga, ouvi a frase “The more we share, the more we have”. Curiosa, fui pesquisar. É atribuída a Leonard Nimoy, referindo-se “AO milagre”. Não podia concordar mais! Antes de mais, dá imenso trabalho e exige muitissimo esforço contrariar esta nossa tendência natural de ligação. Apesar de nos ensinarem o individualismo na grande maioria das experiências de vida desde que nascemos, já certamente todos nós experimentámos a magia de um momento verdadeiramente partilhado! Nos momentos em que me dei, que partilhei o meu tempo, inteira e sem distrações, senti a felicidade mais pura e um retorno (em alegria, energia, amor, ...) indescritível. Efetivamente, a vida tem-me mostrado que “quanto mais damos, mais recebemos”.

3. Uma outra frase que me surpreendeu nesta minha aventura de viver vem diretamente de Angola. Na altura, lá andava a Ana super empenhada a fazer acontecer, a mobilizar contactos, a resolver problemas, a “mostrar trabalho”. Zangava-se com as próprias falhas, com a chuva que impedia atividades programadas, fazia verdadeiros puzzles com a agenda para tentar fazer caber tudo... tinha a oportunidade de estar num país diferente e maravilhoso e mal levantava a cabeça na rua para o ver! Um dia, surge um convite para uma refeição em comunidade, ao por-do-sol, na praia. Comecei imediatamente a listar as coisas que tinha mesmo que fazer naquele fim-de-tarde quando oiço um “Vem só. Vive só, ya?”. Palavras que entraram em mim como um relâmpago de consciência. Vamos a isso, vamos viver só! Andar depressa é diferente de andar com pressa. Podemos ser entusiastas e vamos fazer sempre muitas coisas, mas não precisamos de adiar a vida com o falso propósito de produzir muito. Não sejas indiferente às oportunidades. Aproveita-as!

4. Há uma armadilha em que me via cair com frequência: a do controlo. Ninguém gosta de se confrontar com a incerteza – que é certa! - e desdobramo-nos em ações para dar explicação e sentido a tudo o que acontece. Neste esforço, acabamos por multiplicar até ao infinito o tamanho de alguns acontecimentos, pelas versões de suposto sentido que criámos para eles. Não aceitamos que um relacionamento terminou só porque sim; dizemos para nós próprios que algo se passa de errado connosco e prevemos que vamos ficar sozinhos para sempre! E um acontecimento que passará se não o agarrarmos, fica cravado na nossa cabeça a fazer das suas ao coração. Por isso, não interpretes nada. Factos são factos e tudo o resto são pensamentos que só criam confusão e toldam a visão. Confia e Respira... tudo passa e tudo tem solução!

5. Por fim, digo-te que uma das coisas que me tem feito confusão é o facto de cada vez mais se notar uma indefinição de valores, princípios e causas. Cada um se esconde na sua luta individual pela felicidade, negando completamente o mundo à sua volta e o facto indiscutível de que vivemos (melhor) em comunidade e com mais Humanidade! Sinto que faltam nos dias de hoje pessoas dispostas a dar a cara pelo que acreditam e disponíveis para ir mudando o mundo, pelo exemplo, com outras pessoas, todos os dias. Mas estou disposta a dar eu esse passo todos os dias. Junta-te a mim. Dá a cara! E rodeia-te de pessoas que te fazem bem e que sonham e que dão a cara contigo.

 

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Boas Aventuras,

Solo Adventurers Joana & Ana

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