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Joana Pereira, como não curar a síndrome de Peter Pan

Atualizado: 27 de jun. de 2021


Existirá verdadeiramente dar sem receber? Poderá o voluntariado ser fundamental para o crescimento de alguém? O síndrome de Peter Pan é real? Existem amigos para a vida? A Joana Pereira em forma de história e lições de vida vai responder muito naturalmente a estas questões. Escuta, ou melhor escrevendo, lê.

Sinopse de como nos conhecemos

Lembro-me de ver a Joana Pereira na faculdade, tínhamos amigos em comum mas não me recordo se alguma vez trocámos sequer 3 palavras. É uma pena, porque tomámos decisões idênticas na vida, quase em simultâneo, por isso algumas boas histórias e sonhos teríamos para partilhar. A Joana esteve em São Tomé pela ONGD WACT em 2013 a fazer voluntariado num projeto seu com pessoas com necessidades educativas, curiosamente eu estive no ano seguinte pela mesma organização e com um projeto meu para jovens com e sem necessidades educativas especiais. Para ela o voluntariado e a consciência social são muitos importantes e têm definido a sua vida, para mim também. Bom, mas esta história não é minha é desta Joana por isso aproveita!

Sinopse sobre a Joana Pereira

A Joana vive de pequenas missões dentro daquela que é a maior missão de todas elas: a sua vida. No seu percurso conta com muitas causas sociais e empreendedoras das quais provavelmente já ouviste falar: WACT, Um Pequeno Gesto uma Grande Ajuda, Mentes Empreendedoras, Para Onde? e mais recentemente IES - Social Business School onde está a fazer a formação de formadores... Mas quem é ela?

“Nasci a 22 de Maio de 1990 e sou a mais nova de 3 irmãs. Comecei a fazer voluntariado aos 16 e isso definiu-me enquanto pessoa, contribuiu não só na formação dos meus valores, mas também influenciou a minha visão do mundo e das pessoas e acabou por influenciar o meu percurso profissional. Em 2008 entrei no ISCSP onde me licenciei em Serviço Social. Fiz parte da Magna Tuna ApocalISCSPiana onde passei os melhores momentos da minha vida e onde fiz as amizades que perduram até hoje.

Em 2013 juntei o empreendedorismo social e o voluntariado internacional e fui até São Tomé e Príncipe para trabalhar a inclusão de pessoas com deficiência, onde parte de mim ficou. Regressei 6 semanas depois e passado 2 meses comecei a estagiar na Um Pequeno Gesto Uma Grande Ajuda - onde aprendi tudo o que sei ao nível de gestão de projetos e organizações. 3 anos e meio depois decidi ir para o terreno dar formação em escolas no distrito de Castelo Branco durante 9 meses. Em Agosto de 2018 comecei uma nova aventura e agora faço o que mais gosto, na Para Onde?

Em 2011 descobri que ser tia era algo extraordinário e veio acentuar o meu síndrome de Peter Pan. Gosto de ser criança e estar com crianças faz-me lembrar que nós adultos complicamos demasiados as coisas. Sou uma apaixonada por África, mas sou sobretudo uma apaixonada pelas pessoas. Ao longo da vida tenho descoberto e conhecido tanta gente boa, tanta gente incrível que me inspiram a continuar a fazer o que faço todos os dias.”

Vais aprender mais sobre os pedaços que compõem a Joana através das lições de vida que ela tem para partilhar.

 

Lições de vida

-da Joana para nós-

1. Dedicar tempo a alguém, pode fazer toda a diferença - aprendi isto quando aos 16 anos comecei a fazer voluntariado e me dei conta do poder que é quando tu dizes “Eu estou aqui, podes contar comigo”. Confesso que foram raras as vezes que alguém me disse isto na minha adolescência e teria mesmo feito a diferença algumas vezes. Talvez por isso tenha escolhido um caminho diferente daquele do que certamente os meus pais teriam esperado para mim. Foi talvez isso que me levou a começar a dedicar tempo aos outros: as manhãs de Domingo a uma casa de acolhimento primeiro, as tardes livres de Quarta-feira na ala de pediatria de um Hospital, mais tarde. Dizia-se que era voluntariado mas eu não sabia bem, apenas que fazia a diferença neles e em mim. Porque o tempo que eu lhes dedicava, era o tempo que eles me dedicavam, a mim. E todos ficavam a ganhar.

Foi para dedicar tempo aos outros que escolhi licenciar-me em Serviço Social, no ISCSP. Pelo meio decidi dedicar tempo ao Movimento Transformers, um grupo de pessoas incríveis que dedicava tempo a fazer o que mais gostava, mas usava (e usa!) isso para transformar o mundo. Foi aí que descobri o poder de acreditar em alguém e também onde aprendi a 2ª lição da minha vida

2. Não julgues o que não conheces, abre-te e deixa-te levar - quando me candidatei aos Transformers, na altura iria ajudar na organização do 1º Festival TNT - Todos Nós Transformamos. Depois de me informar sobre o projeto, a história, os vídeos, o “fresh” tudo me pareceu incrível, talvez um lugar de sonho para um dia poder trabalhar. O Festival parecia altamente, com potencial de se tornar um próximo “Alive” mas verdadeiramente urbano e com um componente social fortíssima.

Na chegada ao acampamento descobri pessoas que dançavam: ballet, hip-hop, breakdance; outros gostavam de fotografia, cozinhar ou praticavam skate; haviam pessoas de várias idades, mas todos de espírito jovem e livre. Ninguém tinha medo de fazer macacadas, dar abraços em grupo, ou chorar. Nunca me imaginei naquele sítio, com aquelas pessoas. Nunca imaginei aquelas pessoas, naquele sítio, a fazer o que faziam. Vivi muitas lições naquele fim-de-semana, mas a principal foi que os julgamentos impedem-nos de viver coisas incríveis. Aquele fim-de-semana abriu-me a mente para dar oportunidade a tudo o que pudesse vir e, uns meses mais tarde, estava em São Tomé e Príncipe, onde tomei nota da 3ª e 4ª lições

3. Não te agarres às expectativas e 4. Aceita, relativiza e desfruta das coisas positivas - Em Agosto de 2013 voei até São Tomé e Príncipe, no âmbito do WACT Spirit’13. Ia com uma ideia romântica da coisa, demasiado agarrada ao que queria fazer, mas não preparada para o que ia enfrentar. Não foi fácil gerir tudo, longe de casa. É muito fácil entrar numa espiral negativa, onde tudo nos parece estranho, diferente, difícil. Cheguei a ponderar regressar a Portugal mais cedo, simplesmente por não estar a saber lidar com a situação. Foi após um looooongo e-mail que recebi dos meus pais em resposta ao meu desespero, que percebi: tinha investido tempo e dinheiro para estar ali, tinha ido à procura daquilo, eram 6 semanas, não eram 6 meses ou 6 anos, os meus pais apoiavam-me se eu desistisse, mas eu sabia (e eles também, pelos vistos) que não era de desistir. Percebi então que poderiam haver 2 caminhos: gastar energia com aquilo que não estava tão bem, frustrar-me com os planos que não tinham sido como queria, deixar-me afetar pelo desconforto de estar num ambiente diferente; ou aceitar que as coisas não iam correr como o planeado e aproveitar o tempo que ali estava, dedicá-lo às pessoas, a ouvi-las e conhecê-las, dedicá-lo a ajudar quem precisasse, dedicá-lo ao meu grupo de Agostinho Neto, que nunca desistiu de mim. Não sabia quando ia voltar e tinha que aproveitar cada momento com eles. Decidi escolher o segundo caminho, talvez porque não sabia quando é que ia voltar a estar ali, com aquelas pessoas. Desde aí passou a ser sempre a minha escolha quando me encontro numa encruzilhada, o caminho do aceitar e desfrutar, ou, pelo menos relativizar aquilo que não é importante e focar a energia naquilo que é positivo.

5. Não te acomodes nem deixes de querer o melhor para ti - Quando saí de casa dos meus pais, pouco antes de fazer 25, lembro-me de o meu pai me dizer esta frase e de ela me ficar presa na memória até então. Soube a intenção dele quando a disse, e é daqueles lembretes constantes quando algo não está bem e está na hora de tomar decisões. Todos querem o melhor para si, mas poucos são os que realmente se esforçam para isso, e eu percebo porque é que são poucos. É fácil cairmos numa rotina confortável, dá jeito, é prático e não dá muito trabalho. E é difícil, muito difícil, sentirmo-nos realizados, satisfeitos,a todos os níveis. Eu sinto que seria terrível apercebermo-nos que deixámos de ter sonhos, deixámos de projetar objetivos, desperdiçámos oportunidades, e que tudo isso ficou no passado. Sempre tive medo de olhar para trás e arrepender-me das coisas que não fiz ou deixei de fazer sem ser por opção própria, e acho que o meu pai sabia disso quando me disse essa frase, era isso a que se referia. Foi esse medo que alavancou e incentivou esta vontade de querer mais, de sonhar, de querer novos desafios: sejam novas aprendizagens, ou novas experiências. Mesmo não sendo fácil, é um caminho que acredito que vale a pena construir e ir percorrendo. Chegar à Para Onde? poderá ser uma parte muito bonita desse caminho, ou o culminar da caminhada no cume de uma montanha com uma vista de cortar a respiração, não sei, deixa ver :)

 


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Boas Aventuras,

Joana Feliciano & Joana Pereira

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