Apesar de pertencermos à mesma espécie, todos nós somos diferentes. Temos diferentes vocações, objetivos, estilos de vida e contextos sociais. Seria injusto pedir que todos tivéssemos o mesmo nível de compaixão ou solidariedade, é certo. Mas até que ponto não existe um limite inaceitável de indiferença?
Passando do abstrato para um caso tão duro quanto concreto, importa mencionar a história de René Robert. Para muita gente, será um nome desconhecido; para as centenas de pessoas que passaram ao lado do seu corpo, foi também um ser esquecido. Este fotógrafo, de 84 anos, faleceu numa rua movimentada de Paris, depois de permanecer – indiferente ao olhar de todos – 9 horas ao frio de Janeiro. Após uma queda, da qual não se pôde apurar a origem, o corpo de René manteve-se ao relento. Foram precisas 9 horas para que alguém quebrasse este ciclo de indiferença e se dispusesse a oferecer ajuda. Infelizmente, foi tarde demais. Como causa da morte está “hipotermia grave” e, acrescentaria eu, muita falta de empatia.
A ninguém é pedido (e muito menos exigido) que faça voluntariado toda a vida ou que doe largas quantias de dinheiro a várias causas. Trata-se de ter alguma consciência social e manter um olhar atento sobre o mundo que nos rodeia. E não se resume somente a oferecer auxílio a quem nos é desconhecido. A solidariedade passa também por percebermos o que se passa com aquele amigo que parece ausente e retraído, ou aquele que mudou de comportamento sem razão aparente. Um pequeno gesto, por muito insignificante que possa parecer, pode fazer a diferença. Sejamos mais atentos ao exterior que nos envolve. Se todos o fizermos, o mundo torna-se um lugar melhor e, certamente, menos indiferente.
Vemo-nos no próximo nível?
Beatriz Bernardo
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