João Pedro Sousa
27 de mai de 20212 min
Por detrás de qualquer gesto altruísta, de qualquer ato de generosidade, há sempre um interesse. Quem dá visa sempre algum ganho. Mas não pretendo diabolizar o altruísmo. Quero, apenas, potenciar a reflexão sobre o assunto.
Atrevo-me a dizê-lo: o altruísmo é sempre uma forma de egoísmo. ‘Ninguém dá nada a ninguém’. É um ditado conhecido, mas falta admitir o mais difícil. É, também, uma verdade. Por detrás de qualquer gesto altruísta, de qualquer ato de generosidade, há sempre um interesse; algum benefício, em maior ou menor grau.
Ressalvo, desde já, que não pretendo, aqui, provocar tresleituras. Na verdade, a tese que proponho não tem, necessariamente, de ser algo negativo. O altruísmo é sempre louvável, mas na base dessa qualidade está nada mais, nada menos, do que o nosso instinto de sobrevivência. Do prisma da evolução da nossa espécie, somos condicionados a praticar o bem. A cooperação era uma necessidade. Para caçar, por exemplo. Sabem, por isso, onde quero chegar. Somos altruístas, porque, em última análise, precisamos do próximo para (sobre)viver.
Mas coloquemos de lado o cérebro primitivo. Vamos, aliás, a extremos. Podem perguntar-me, por exemplo, como explico o caso das pessoas dispostas a dar sangue, ou a doar um órgão a desconhecidos. Fazem-no, certamente, por convicção; e, sim, são atos (hiper)altruístas. Serão, em todo o caso, gestos desinteressados? Não creio. De novo, quem dá visa sempre algum ganho, por mais nobre que seja: ter reconhecimento; vir a receber de volta; conseguir o respeito de Deus.
Saliento, uma vez mais, que não pretendo diabolizar o altruísmo; bem pelo contrário. O mundo precisa de hiperaltruístas. Quero, apenas, potenciar a reflexão sobre o assunto e recordar que o egoísmo (mais ou menos tangível) associado ao altruísmo é natural. Somos assim. Se houver quem esteja disposto a dar por bondade, lembrem-se: também isso envolve prazer - ganhos - para a pessoa. Para o cérebro e para o espírito.
Quando (se), nalgum momento, vos perguntarem se são pessoas egoístas, não tenham vergonha de responder afirmativamente. No fundo, ao dizer “sim”, estão, também, a afirmar que nunca deixam de pensar no que é melhor para vós. E ainda bem.