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Com moderação e equilíbrio, antecipem sempre o pior

Enquanto assimila a probabilidade de ‘falhanço’ ou de ‘insucesso’, o pessimista está, também, a interiorizar alternativas. Diferentes saídas, se quisermos. “Se x não correr como quero, tenho as hipóteses y ou z, que já antecipei”. É este o esquema. A preparação é maior. O controle sobre resultados também.




O otimismo cego pode ser perverso e ilusório. Eu proponho um pessimismo sóbrio. Acompanhem o raciocínio: esperar sempre o melhor é meio caminho andado para uma potencial deceção; ou, no limite, para uma desilusão maior. É o que acontece quando o resultado de algo é desfavorável face ao que ansiamos. Aí, torna-se mais duro. E todo aquele tempo a ver o copo meio cheio foi, na verdade, uma tentativa frustrada de ignorarmos os nossos problemas; um mau exemplo de educação emocional. Sejam pessimistas.


Vamos começar por desfazer o preconceito. O pessimista não é, necessariamente, uma pessoa menos feliz ou ansiosa. A consequência de um pessimismo “defensivo” é, aliás, exatamente o oposto. Como? Tornamo-nos mais capazes. Primeiro, é preciso relembrar: ninguém conhece o futuro. Mas a vantagem, para o pessimista, é precisamente essa. As ameaças e a incerteza são encaradas de frente. Todos os detalhes são visualizados; e todas as possibilidades antecipadas.


Um exemplo concreto pode ajudar a perceber. Pensemos numa entrevista de emprego. O pessimista acredita, com toda a força, que não vai ser contratado. As expectativas estão, naturalmente, baixas. Nós, amigos ou familiares, cedemos ao instinto mais básico: “Vai correr tudo bem. Pensa positivo”. Mas não tem necessariamente de ser esta a palavra de conforto. A não ser que estejamos perante um caso de real sofrimento psicológico e emocional, o truque pode, também, passar por permitir que a pessoa ‘pense os próprios pensamentos’. Mais tarde, os benefícios valerão toda a pena: se o emprego for conseguido, a alegria é estrondosamente maior. Se for a má notícia a chegar, a desilusão nunca será tão expressiva.


Há mais. Enquanto assimila a probabilidade de ‘falhanço’ ou de ‘insucesso’, o pessimista está, também, a interiorizar alternativas. Diferentes saídas, se quisermos. “Se x não correr como quero, tenho as hipóteses y ou z, que já antecipei”. É este o esquema. A preparação é maior. O controle sobre resultados também. E antes de tudo isto, o trabalho de casa é mais sólido. O entrevistador vai perceber isso mesmo; que houve preparação. E qual é a melhor parte? Uma chance significativamente maior de se ter o contrato de trabalho na mão. Acreditem: vai saber muito melhor.


Importa sublinhar que me refiro aqui a um pessimismo moderado; não a uma condição em que estamos desprovidos de qualquer esperança no futuro. Isso tem outro nome: podem chamar-lhe tristeza, desmotivação ou ansiedade. Se for este o caso, também há um conselho prático a anotar. Exponho-o com recurso a uma questão: o que diriam a outra pessoa? Ou que conselhos dariam? Reflitam e nunca deixem de recordar a situação oposta: o pessimismo doseado pode muito bem ser uma das nossas maiores virtudes.




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