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Altruísmo: egoísmo com máscara

Por detrás de qualquer gesto altruísta, de qualquer ato de generosidade, há sempre um interesse. Quem dá visa sempre algum ganho. Mas não pretendo diabolizar o altruísmo. Quero, apenas, potenciar a reflexão sobre o assunto.


Atrevo-me a dizê-lo: o altruísmo é sempre uma forma de egoísmo. ‘Ninguém dá nada a ninguém’. É um ditado conhecido, mas falta admitir o mais difícil. É, também, uma verdade. Por detrás de qualquer gesto altruísta, de qualquer ato de generosidade, há sempre um interesse; algum benefício, em maior ou menor grau.


Ressalvo, desde já, que não pretendo, aqui, provocar tresleituras. Na verdade, a tese que proponho não tem, necessariamente, de ser algo negativo. O altruísmo é sempre louvável, mas na base dessa qualidade está nada mais, nada menos, do que o nosso instinto de sobrevivência. Do prisma da evolução da nossa espécie, somos condicionados a praticar o bem. A cooperação era uma necessidade. Para caçar, por exemplo. Sabem, por isso, onde quero chegar. Somos altruístas, porque, em última análise, precisamos do próximo para (sobre)viver.


Mas coloquemos de lado o cérebro primitivo. Vamos, aliás, a extremos. Podem perguntar-me, por exemplo, como explico o caso das pessoas dispostas a dar sangue, ou a doar um órgão a desconhecidos. Fazem-no, certamente, por convicção; e, sim, são atos (hiper)altruístas. Serão, em todo o caso, gestos desinteressados? Não creio. De novo, quem dá visa sempre algum ganho, por mais nobre que seja: ter reconhecimento; vir a receber de volta; conseguir o respeito de Deus.


Saliento, uma vez mais, que não pretendo diabolizar o altruísmo; bem pelo contrário. O mundo precisa de hiperaltruístas. Quero, apenas, potenciar a reflexão sobre o assunto e recordar que o egoísmo (mais ou menos tangível) associado ao altruísmo é natural. Somos assim. Se houver quem esteja disposto a dar por bondade, lembrem-se: também isso envolve prazer - ganhos - para a pessoa. Para o cérebro e para o espírito.


Quando (se), nalgum momento, vos perguntarem se são pessoas egoístas, não tenham vergonha de responder afirmativamente. No fundo, ao dizer “sim”, estão, também, a afirmar que nunca deixam de pensar no que é melhor para vós. E ainda bem.





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