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O pesadelo

Há dias, tive um pesadelo vívido. Era cru e metia morte. Por esta, já sofri bastante. Todos nós, julgo. A partida dos que nos são próximos magoa, mói, corrói mas, acredito, também alarga os horizontes. Primeiro, a zanga misturada com a angústia e a saudade; depois, o questionamento sobre o onde, o como, a forma, a disposição, a comunicação.

De repente, a certeza de que há sempre o reencontro, seja diariamente, através das memórias e dos "repentes" em que nos surgem com elevada presença, seja num hipotético além, seja nos momentos da partida, que sinto tantas vezes preconizado nos vôos dos pássaros.


A morte – essa besta arrebatadora, que nos abate e arrebata em simultâneo. Existem os que andam a trabalhar em tentativas de acabar com ela. Hipotetizam esses que a morte é uma doença, como outra qualquer e que, nessa linha de pensamento, não há porque não encontrar cura para ela. Vêem o próprio envelhecimento como uma doença a dizimar, com o sonho de uma eterna juventude, sã e saudável.


A morte – essa besta arrebatadora, fruto de tantos escritos e artes; de tantos engenhos e curiosidades. A Filosofia existencial, bem como a Psicologia fenomenológica, ajudam-nos a pensar sobre ela, compreendendo-a e a sua putativa necessidade, como mote para uma vida objetivada, porque – exatamente – limitada. Como se os muros contra os quais esbarramos, não fossem mais do que existenciais que nos permitem ir mais além, sobrepondo-nos a eles; realizando-nos, com dor é certo, mas exactamente neles.


Angústia, tristeza, dor, sofrimento, dúvida – todos elementos da vida, propriamente existentes para que esta seja existência crua e nua – vivida, portanto. Vivamos tudo o que há para saborear, toquemos todo o espectro das emoções, da mais bela à mais dura e façamos, assim, da vida uma experiência verdadeiramente revolvida, experienciada, significativa e sentida.


Se temos saudades da mãe? Sim, claro. Se temos saudades do pai? Sim, sempre, a toda a hora. Se temos saudades dos amigos/as? Sim, sim. E de outros familiares? Claro está que sim também.


Se devíamos retirá-los da serenidade que, acredito, se consegue no plano seguinte da existência? Não me parece, de todo. Seria assim como acabar com a ordem natural das coisas, causando disrupção e entropia na homeostase que é a própria vida, não dando lugar ao novo; não permitindo os tantos nascimentos ainda por acontecer; as tantas inovações encontradas em cada ser que vem ao mundo, único e irrepetível.


Tive um pesadelo vívido, cru e que metia morte. A morte – essa besta arrebatadora, que nos abate e arrebata em simultâneo, sussurra assim baixinho:


Bem-vinda a Vida!





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